13 maio 2008




A Única Porta
Pr C H Spurgeon
Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará, e sairá, e achará pastagem (João 10:9)
A palavra de Deus nos diz que, em meio a grande multidão de seres humanos, existe um povo especial – um povo escolhido por Deus da raça comum antes que as estrelas começassem a brilhar; um povo caro ao coração de Deus antes da fundação do mundo; um povo que foi redimido pelo precioso pelo sangue de Jesus além e acima da humanidade; um povo que é a propriedade de Cristo, o rebanho do seu pasto, as ovelhas que comem da sua mão; um povo de quem a Providência cuida, abrindo um caminho para eles em meio ao emaranhado confuso da vida; um povo que no fim será trazido, um por um, sem mácula diante do trono eterno e preparado para o destino excelso que Deus vai revelar no futuro. Em toda a escritura você lê sobre este povo peculiar e especial. Às vezes ele é chamado de “semente”, outras vezes de “jardim”, “tesouro” e “rebanho”, como no capítulo que lemos. O nome comum no novo testamento para ele é “igreja”, “A igreja de Deus, a qual Ele comprou com seu próprio sangue”. “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem da água pela palavra”.

A grande questão é: como conseguir ser admitido nessa igreja? Onde encontrar essa comunidade? Quem são seus membros? Qual é o caminho para tornar-se participante dos privilégios que ela tem? Jesus Cristo nos diz duas coisas aqui: como entrar na igreja – o caminho é através Dele, que é a porta. Segundo, que benefícios recebemos por sermos membros da igreja de Cristo – seremos salvos, entraremos e sairemos e encontraremos pastagem.

I. Como alguém pode tornar membro desta igreja que é eleita? Redimida e será salva? A afirmação de Jesus dá uma resposta simples e curta a esta pergunta.

Cristo nos diz que a única maneira de entrar na igreja é através dele mesmo. Ele é a porta, a única porta. Não há nenhum outro modo de admissão em sua igreja a não ser por ele. Que fique entendido, então, de uma vez por todas, que não podemos entrar na igreja de Cristo pelo batismo. Há dezenas de milhares, na verdade milhões que foram batizados depois de uma programação especial, isto é, que foram aspergidos ou imergidos, sem nunca terem sido admitidos na igreja de Cristo. Por causa da ordenança que lhes foram ministradas, com seu consentimento ou muitas vezes sem ele, algumas pessoas os reconhecem como cristãos. Mas deixe-me dizer-lhes que, se não vieram a Cristo por uma fé genuína, eles não são melhores que pagãos batizados; ainda são pagãos aspergidos. Você pode manter alguém debaixo de um chuveiro para sempre sem com isso fazê-lo “membro de Cristo”; você pode arrastá-lo para o fundo do oceano Atlântico e, se sobreviver a imersão, ele ainda não será um “til” melhor. A porta não é o batismo, mas Cristo. Se você Crê em Cristo, você é membro da sua igreja. Se você colocou sua confiança sobre Cristo que é o grande meio de salvação de Deus, então você tem evidências de que foi escolhido por Ele antes da fundação do mundo, e esta sua fé o habilita para todos os privilégios que Deus prometeu aos crentes em sua palavra.

Se Cristo é a porta, conclui-se que ninguém entra na igreja por meio de nascença. A associação dos amigos tem sido uma das comunidades, mais frutíferas no mundo, e conservou um bom testemunho nas questões mais importantes por muitos anos, mas me parece que o grande mal que há nela, que lhe causou muitos danos, é a admissão de membros por direito de nascimento. Não recebem eles em sua comunhão os filhos dos seus membros, como se fossem elas pessoas certas para serem recebidas na igreja visível? Meus irmãos, é um grande privilégio ter os pais cristãos. Isso pode ser uma grande vantagem, se você fizer uso correto dela. Há nisso uma grande responsabilidade e, se você fizer mau uso dela, em vez de ser uma bênção para você pode ser uma maldição temível. Você pode ser um elo de uma grande linhagem de santos; “se você não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. O exemplo mais consagrado, a formação mais espiritual não pode garantir a conversão e, sem conversão, você pode apostar nisso, você não pode ser de Cristo. “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus”. Por não praticarmos o batismo de crianças, não caímos tão facilmente neste erro como outras denominações, mas é necessário dizer também aqui que você não tem direito aos privilégios do evangelho devido aos seus pais e mães. Vocês mesmos precisam ter nascido de novo. Vocês não tem direito à aliança da graça, nem as bênçãos das promessas, se não vier à Cristo por sua fé pessoal e individual. Nem seu pai ou sua mãe podem ser a porta para a igreja de Cristo, só o próprio Cristo. Ele disse: “Eu sou a porta”. Se você tem Cristo, você está em sua igreja. Se você se prender à Cristo, você será membro dessa comunidade, dos seus eleitos e redimidos. Nunca por batismo ou por direito de nascença.

Além disso, como Cristo é a porta, é evidente que ninguém se torna membro da igreja de Cristo simplesmente dizendo que é. Ele pode acabar se revelando um hipócrita detestável, mas não pode se revelar um cristão genuíno por mera confissão de fé. Ninguém fica rico neste mundo esbanjando dinheiro ou dizendo que é abastado. É preciso guardar bem as escrituras das propriedades e guardar o dinheiro num cofre, senão todo o faz de conta não esconde a pobreza. Você não pode tornar-se cristão vindo à frente e pedindo para ser admitido na igreja, declarando que crê e jurando que se arrepende. Não, você precisa se arrepender de verdade, ou não terá parte nem porção nesta questão. Simplesmente dizer: “Sim, sim estou disposto a afirmar isto, concordo em dizer aquilo” faz de você um cristão quanto dizer que um algodão é seda transforma o algodão nisso, ou fazer ouro de lama mudando o nome desta. Tome cuidado com afirmações falsas porque elas trazem duas conseqüências perigosas. A pessoa que não está debaixo da graça está em perigo, mas aquela que afirma tê-la quando não a tem está duplamente em perigo, porque é menos provável que seja despertado, e está fazendo de sua conversão um travesseiro para sua cabeça perversa e adormecida, no qual ele descerá dormindo para o inferno.

Depois, e talvez isto chegue mais ainda ao ponto, ninguém se torna parte do povo do Senhor ou uma das ovelhas de Cristo por ser admitido em uma igreja visível. Não deve tentar entrar em uma igreja visível quem não faz parte da igreja verdadeira. Ele não tem o direito de juntar-se à organização externa se não se agregou primeiro à organização secreta, através de uma fé viva em cristo. Quem dá a volta pela porta e pula o muro, entrando na igreja exterior sem ser crente em Cristo, longe de ser salvo, Cristo vai dizer-lhe: “Você é ladrão e salteador, porque você subiu por outro lugar, sem passar pela porta”. Eu creio que agimos corretamente ao submetermos a admissão de membros à voz de toda a igreja; creio que agimos certo ao examinarmos os candidatos, para ver se é possível crer em sua profissão de fé e se sabem o que estão fazendo. Porém nossa avaliação – ela não é mais profunda que a pele. Não podemos sondar o coração, e o melhor juízo de muitos homens cristãos, por mais honestos e merecedores de grande respeito que sejam, é uma base muito pobre para alguém se apoiar. Se você não tem Cristo, seus certificados da igreja são papéis para o lixo e sua associação com quaisquer pessoas, por mais puras e apostólicas que possam ser, é só um nome pelo qual viver enquanto você está morto, porque a única maneira de entrar na igreja real, vital, viva de Cristo é voltando-se para Cristo que, ele mesmo, é a porta.

O português claro desta metáfora, então, diz exatamente isto: para ser do povo de Deus, o essencial é a dependência simples de Jesus Cristo. Se você não tem isto – não importa quem o batiza, ou lhe dá o pão e o vinho consagrado, ou quem emociona você com uma esperança de salvação pela qual não há garantia – você morrerá em seus pecados, apesar de todos os seus sacramentos, se não vier a Cristo. Nenhum outro meio de admissão no céu pode ser posto além da simples dependência daquele que derramou seu sangue e morreu na cruz do Calvário. A pregação de qualquer outro sistema é mero engano contra o qual fomos advertidos, ou é uma armadilha para apanhar os desatentos.

Preste atenção: a fé simples, quando genuína, deixa claro que você entra por Cristo que é a porta, porque uma fé assim leva á obediência. Como você pode imaginar que você é membro de sua igreja se você não é obediente à Cristo? É necessário que quem confie em Cristo se torne servo de Cristo. A fé real nunca tropeça nisso. Cristo disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos”. Se não guardamos os mandamentos de Cristo a partir do princípio do nosso amor por Ele, nossa religião é inútil. “Sem santificação ninguém verá o Senhor”. Podemos falar o quanto quisermos sobre experiências e convicções exteriores, porém “Pelos seus frutos os conhecereis”. O Espírito de Deus é o espírito da santidade, quando Cristo entra na alma, toda iniqüidade precisa ser expurgada dela. Você sabe como Malaquias descreve a sua vinda. Ele nos anuncia a promessa de que o Senhor a quem buscamos virá ao seu templo de repente: quem procura, acha. O que ele acrescenta? “Mas quem poderá suportar o dia da sua vinda? Porque ele é como o fogo do ourives e como a potassa dos lavandeiros”. O fogo do ourives queima as escórias e o sabão do lavandeiro tira as manchas; da mesma forma, se Cristo está em você, você passará por um refinamento que queimará, seu pecado interior, e você será submetido a uma lavagem com o sabão mais forte, para limpá-lo de todas as suas iniqüidades. “Não vos enganeis, de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear isso também ceifará”. Se vivermos de acordo com a carne iremos morrer; se, pela graça de Cristo, vivemos Nele, confiando Nele e servido à Ele – sendo que o serviço é a evidência da confiança, e a confiança a evidência da eleição – então você entrou na igreja pela porta, e você está bem.

Bem, se Cristo é a porta, e se nós entramos nesta igreja por esta porta, não importa muito para nós o que aquele senhor idoso em Roma pensa de nós. Ele pode querer nos excomungar. Isto ele gosta de fazer. Ele é bom em maldizer; o que importa? Se sou nova criatura em Cristo Jesus, não dou a mínima para as afrontas do Papa. Além disso, há muitos difamadores hoje em dia que estão dizendo: “Os não conformistas não passam de um bando de heréticos. Nós temos a sucessão apostólica, os sacramentos e os sacerdotes”. Ora, eles se gabam de serem “católicos”, apesar de sua alegação ser desautorizada tanto pela babilônia aqui de baixo como pela Jerusalém lá de cima. Que se vangloriem. Enquanto temos a Cristo, eles que fiquem com sua sucessão apostólica e todos os outros lixos. Ele é a porta, e, se entramos por Ele, está tudo muito bem.

Eu gosto da história dos moradores das ilhas Sandwich que tinham sido convertidos por intermédio de um dos nossos missionários e já estavam ouvindo o evangelho há anos. Um dia, dois ou três senhores com longos talares pretos desembarcaram ali, e o povo perguntou porque tinham vindo. Eles responderam:

-- Viemos instruí-los na fé verdadeira e ensiná-los.

-- Bem – disseram aqueles, -- se o seu é verdadeiro e de acordo com as escrituras iremos ouvi-los.

Assim de passagem foi mostrado um pequeno diagrama aos nativos semelhante a uma árvore com muitos galhos.

Os ramos mais distantes eram os vários santos, os crentes os que fazem boas obras. Depois os galhos um pouco mais fortes eram os sacerdotes; os mais grossos eram os bispos, os bem fortes eram os cardeais, e todos se juntavam ao tronco que era o Papa. Na base estava Pedro, derivando sua autoridade diretamente de Cristo. Os nativos fizeram perguntas sobre todos estes galhos, especialmente alguns apodrecidos que estavam caindo num fogo:

-- Quem são estes? – Estes eram Lutero, Calvino e outros hereges que tinham sido cortados da árvore verdadeira que é a igreja.

-- Digam-me – disse um dos moradores das ilhas, -- Quem é a raiz das árvores? – É claro que concordaram que a raiz era Jesus Cristo. Então todos bateram Palmas de alegria e disseram:

-- Não nos importamos com os ramos e galhos; nunca ouvimos falar deles, mas temos a raiz, ela é suficiente para crescermos nela. – Da mesma maneira, irmãos, podemos dizer esta noite que, se temos a Cristo, temos a “raiz duma terra seca”. Obtemos a raiz da questão, a base, o resumo, a substância de tudo.

Os outros crêem em muitas formas;

Não queremos discutir a esperança deles.

Que eles corram atrás dos seus negócios e se alegrem com suas ilusões; a porta é Cristo. Nós temos a Cristo, nós entramos pela porta, nós cremos Nele, nós entramos na fé, na alegria e na paz por meio Dele. Nós estamos satisfeitos com isso; que outros queiram escalar por outro lugar, se quiserem.

Antes que eu termine este ponto, quero fazer uma pergunta que se propõe por si mesma: será que todos já entramos pela porta? Concordamos que Cristo é a porta. Já passamos por ela? Vocês que estão ficando velhos – sempre ficam contentes quando vejo cabeças brancas no auditório, com os cabelos grisalhos da maturidade – todos já creram em Jesus? Vocês conhecem a verdade, não querem ouvir a pregação de nada a não ser do evangelho simples; mas será que já se apropriaram dele? Pode-se morrer de fome com pão sobre a mesa e morrer de sede com água pelo pescoço, se a pessoa não comer e beber. Você já confiou em Cristo. Se não, como pode permanecer em estado de descrença, se “o que não crê já está julgado, porquanto não crê no filho de Deus?” Homens e mulheres na meia-idade, debatendo-se com as preocupações dos negócios, vocês já entraram em Cristo? Eu sei que os pensamentos de vocês estão necessariamente muito ocupados com o mundo; mas você não tem tempo para refletir sobre esta pergunta, ou se arrisca a negligenciá-la: “Você crê no filho de Deus?” Se a resposta é não, meu amigo, sua vida está por um fio, que, se cortado, tornará certa a sua ruína. E vocês, jovens, que prova de bênção vê-los dispostos a vir ouvir a palavra! Mas, será que já a ouviram com seus ouvidos interiores? Já olharam para o seu mestre? É muito bom vir a Cristo cedo na manhã da vida, para ter um dia longo de felicidade diante de si! Que este seja o privilégio de cada um de nós. É inútil olhar para a porta se você não entra por ela. Que Deus lhe dê a graça de entrar se você ainda não o fez.

Nosso Senhor e mestre nos diz qual são as vantagens de entrar por Ele que é a porta: aquele que entra por Cristo será salvo, entrará e sairá e achará pastagem.

Ele será salvo: imagine que alguém acidentalmente mate seu companheiro. O parente mais próximo da vítima tomará providências para matar o homicida por vingança, se conseguir pegá-lo. Por isso o pobre homem foge o mais rápido que puder para a cidade de refúgio. Seu coração está acelerado, seus pés voam, ele corre com todas s suas forças. Ele passa por uma seta onde se lê: “Refúgio”, e continua correndo. Em dado momento ele olha para traz e vê que o vingador está nos seus calcanhares. Ele o vê aproximar-se e que provavelmente logo o alcançara. Quanto cuidado ele toma para não tropeçar em alguma pedra, como ele voa pelo caminho, rápido como uma gazela! Ele corre até avistar os portões da cidade. “Essa é a cidade do refúgio”, ele se anima. Mas ele não se detém, porque só a visão da cidade não o ajuda em nada; ele apressa seu passo para ultrapassar o vento, a disparar pelo pórtico e ver-se na avenida central da cidade. Agora ele pára para respirar. Agora ele pode enxugar o suor da testa. “Agora estou seguro”, ele diz: “porque nenhum vingador de sangue se atreverá passar por aquele limiar; quem consegue fugir para cá está livre”. A mesma coisa acontece com o pecador quando o pecado o persegue, quando descobre que ofendeu à Deus. Ele ouve os terríveis caçadores da vingança divina correndo céleres atrás dele, e sua consciência voa, sua alma se apressa para a cruz. Ele recebe um pouco de esperança; ele ouve o salvador; mas isto não é suficiente. Ele só irá descansar, só poderá dizer que está em paz quando tiver passado pelo portão da fé e puder dizer: “Agora creio que Jesus morreu por mim”.

Quem entrar pela porta será salvo. A arca de Noé foi construída nos tempos idos para preservar Noé e sua família no grande dilúvio. Não se pode dizer que Noé seria salvo enquanto não entrasse pela porta.

Depois que ele o fez, as mãos divinas, invisíveis, fechou a porta. Quando Noé viu como Deus a calafetava e compreendeu que estava preso ali dentro, ele se sentiu bem seguro. Se Deus nos tranca dentro, o dilúvio lá fora não pode nos fazer nenhum mal. Quem deus fecha deve estar seguro. No momento em que um pobre pecador confia em Cristo, Deus tranca a porta. Ali ele está e ali Ele ficará até que o tempo não exista mais. Ele está protegido. Os poderes do inferno não podem destruí-lo, e a vingança de Deus não pode tocá-lo. Ele passou pela porta, e será salvo.

Li outro dia a história de uns russos que passavam por uma ampla planície, onde aqui e ali se via grandes florestas. As aldeias ficavam quinze ou vinte quilômetros uma da outra, os lobos estavam soltos, os cavalos corriam em disparada louca, os viajantes podiam ouvir os latidos dos lobos atrás deles. Os cavalos davam tudo de si, mas os lobos chegavam cada vez mais perto, e eles só escaparam, como dizemos, “por um triz”, conseguindo entrar em uma cabana que encontraram à beira da estrada e fechar a porta. Depois eles ouviram os lobos saltando sobre os telhados, roendo a porta, uivando e assustando-os com muitos ruídos, mas os viajantes estavam seguros porque tinham entrado pela porta, e a porta estava fechada. Agora, se alguém está em Cristo, ele pode ouvir com que os demônios uivando como lobos, ferozes e famintos por ele; seus pecados, como lobos, estão tentando arrastá-lo para baixo, para a destruição. Porém ele entrou em Cristo, e este é um abrigo tal que, se todos os demônios desse mundo viessem ao mesmo tempo, não conseguiriam arrancar um único sarrafo desse refúgio eterno; só ele pode ficar firme, mesmo que o céu e a terra se desfizessem. Cristo diz a todo homem e mulher que eles serão salvos se entraram pela porta. Você não precisa ter nenhuma dúvida quanto a isso. Não deixe ninguém questionar se você será salvo ou não; você será. Agarre nesse bendito “será”. Senhor se você foi um bêbado, mas agora confia em cristo, você será salvo. Você não voltará para a bebedeira, mas será salvo dela se crer nele. Senhora, se você manchou seu caráter da pior maneira possível, mas crê em Cristo, nenhum dos seus pecados passados irá arruiná-la, mas você será salva. Sim, apesar de vocês serem tentados todos os dias das suas vidas, tentados como jamais antes, Deus é fiel e não pode mentir – se você passar por Cristo que é a porta, você será salvo. Você está entendendo o que é passar pela porta? Significa depender de Jesus, entregar-se a Ele, descansar Nele. Quando você dependura seus apetrechos de cozinha nos ganchos do armário, o que os impede de cair? Nada além do gancho; se ele segura bem, nada do que está pendurado nele poderá cair. Você precisa confiar em Cristo como os utensílios estão pendurados no gancho ele está firme como um gancho bem parafusado, se você se pendura nele, não poderá nem ira perecer. Este é o principal privilégio – ele será salvo.

Quem passou pela porta poderá entrar. Aquele que crê em Cristo entrará no descanso e na paz, porque não há condenação para os que estão em Cristo Jesus. Ele entrará no conhecimento secreto. Ele será um erudito e será instruído por Cristo como seu rabino. Ele irá até Deus em oração com ousadia santa. Ele irá para aquilo que está atrás do véu e falará com Deus de diante do trono da graça. Ele entrará na condição de filho e se tornará herdeiro adotivo do céu. Ele entrará na comunhão intima com Deus, falará com seu criador. O senhor fará resplandecer o seu rosto sobre ele. Ele alcançará as coisas mais elevadas, entrará na sala do tesouro da aliança e dirá: “Tudo é meu”. Ele entrará no depósito das promessas e tomará tudo que sua alma precisa. Ele entrará, avançando de círculo em círculo, até chegar ao lugar mais interior, onde o amor de Deus é espalhado com mais graça.

Quem passa pela porta será salvo e entrará. Se você sabe o que isso significa – entre; entre mais fundo; entre mais, constantemente. Não pare onde você está, mas entre até você receber um pouco mais. Se você ama a Cristo, aproxime-se mais Dele, mais, ainda mais. Que sua oração seja:


Mais perto quero estar, meu Deus, de ti,

Inda que seja a dor que me uma a ti.

Sempre hei de suplicar: “Mais perto quero estar,

Meu Deus de ti!”

No entanto, se coce quer entrar em qualquer coisa espiritual, você precisa ir através de Cristo. Vocês que abrem suas bíblias e querem compreender um texto, a maneira de entrar no sentido de um texto é pela porta, Cristo. Vocês que querem mais santidade venham pela porta; o caminho para a santidade não é por Moisés, mas, por Cristo. Vocês que querem uma comunhão mais íntima com o pai celestial, o meio de entrar não pelos seus esforços próprios – mas Cristo. Você veio para Cristo primeiro para receber salvação; você precisa continuar vindo a Cristo para ser santificado. Jamais procure outra porta porque só existe uma, e esta o levará para a vida, amor, paz, conhecimento e santificação. Ela o levará para o céu. Cristo é a chave mestra pêra todas as dependências para todas as dependências do palácio da misericórdia, e se você tem Cristo você pode entrar. Nada pode manter você fora de alguma câmara secreta. Você entrará, em nome de Deus através de Cristo, que é a porta.

O próximo privilégio é que você sairá. Os dois juntos - entrar e sair – significam liberdade. O cristão não entra numa igreja como numa prisão; ele entra como um homem livre que entra e sai de sua própria casa. Entretanto, o que significa sair? Creio que é o seguinte, irmãos: aqueles que confiam em Cristo saem para suas atividades diárias através de Cristo, que é a porta. Quantos de vocês já pensaram nisso? Você percebe que às vezes você levanta, se veste e sai precipitado para o trabalho, e se sente fraco o dia todo. Bem, eu não me admiro, porque não saiu através da porta, Cristo. Imagine que você tenha se entregue a Cristo para o dia e, mesmo que teve só pouco tempo para orar, e disse nesses termos: “Senhor, sou teu. Toma conta de mim hoje. Estou saindo para onde haverá muitas coisas para me tentar e provar. Não sei o que haverá hoje, Senhor, mas estou saindo em teu nome e descansando em tua força. Se há algo que eu possa fazer por ti, desejo fazê-lo. Se há algo a sofrer, desejo sofrê-lo por amor a ti, mas cuida de mim, Senhor. Não quero sair e encarar as outras pessoas antes de ter visto a tua face, e não quero falar com elas antes de ter falado contigo, nem ouvir o que elas tem a dizer antes de ter ouvido o que o Senhor Deus tem a dizer”. Você pode crer que é uma bênção quando você passa pela porta. Você terá a certeza de voltar feliz para casa quando sai dessa maneira.

Será que este sair não significa sair para o sofrimento? Às vezes você e eu somos chamados para suportar dores físicas e perdas de bens ou de entes queridos. Como é bom sair para sofrer essas coisas pela porta, e poder dizer: “Mestre, isto é uma cruz, mas eu quero carregá-la, não na minha força, mas na tua. Faça comigo o que quiseres; beberei o cálice que tu o indicaste”. Em qualquer coisa e que você puder ver a mão de Cristo, o amargo fica doce e as coisas pesadas logo ficam leves. Vá para o seu leito de enfermidade como espera ir para o leito de morte: pela porta, isto é, através de Cristo.

E quando, como às vezes acontece, temos de sair, por assim dizer, da comunhão com Cristo para lutar com nossos pecados interiores, a maneira certa de lhes resistir é pela porta. Se você alguma vez tentar lutar contra o pecado pela sua própria força, ou em base legal, ou se você sente que será condenado se não vencer esses pecados, você será tão fraco como água. O caminho da vitória é pelo sangue do cordeiro. Não há como matar o pecado exceto jogando o sangue de Cristo sobre ele. Assim que o sangue de Cristo entra em contato com o pecado persistente, o pecado retrocede de pronto. Saia para os seus conflitos espirituais pela porta.

Assim, amados, em tudo que fazemos pelo Senhor devemos sair pela porta. Para mim é sempre agradável pregar quando que saí em nome do meu mestre, quando não venho para lhes dizer as idéias que desenvolvi em próprio cérebro, nem para colocar para vocês ilustrações interessantes, como eu às vezes gostaria. Quando venho para lhes dizer simples e somente o que meu Senhor quer que vocês saibam, trago-o como mensagem a vocês do deus de vocês, e ele acende em meu coração seu grande amor pelos pecadores que estão perecendo. Assim, o ministério é um prazer.

Agora, o último privilégio mencionado no texto é “e achará pastagem”. Eu imagino que foi para isso que vocês vieram aqui, vocês que amam o Senhor: para encontrar pastagem. É uma grande benção se, quando vimos ouvir o evangelho, ele se torna um verdadeiro pasto para nós. Conhecemos alguns que dizem que os problemas da semana se tornam insolúveis porque o domingo foi vazio. Se vocês são membros de uma igreja dilacerada por discórdias, onde o pastor tem abundância de tudo menos de Cristo, vocês logo vão começar a reclamar, e a valorizar o privilégio de ouvir Jesus Cristo, elevado entre vocês. Quem, porém, são as pessoas que ganham pastagem quando Jesus Cristo é pregado? Não são todas que o ouvem, nem mesmo todos os crentes. Há ocasiões em que você ouve um sermão que não serve para você, mas seu irmão ou irmã ao seu lado pode ser grandemente instruído e confortado por ele. Nesse caso, eu não me surpreenderia se a razão é que seu amigo entrou no culto pela porta e você não.

Você conhece a história do senhor Erskine e da boa senhora que veio ouvi-lo pregar em um dia de ceia? A pregação foi tão agradável que ela achou que nunca tinha ouvido outra igual. Assim, depois do culto ela perguntou:

- Quem foi aquele senhor que pregou hoje? – quando lhe falaram que foi o Sr. Ebenezer Erskine, ela disse:

- Voltarei no próximo domingo para ouvi-lo de novo. – ela veio, ouviu, e pensou: “Que pregação pesada e seca!” não recebeu nenhum conforto com ela; então, como uma mulher tola que eu acho que ela deve ter sido, ela foi ao vestíbulo e disse:

- Sr. Erskine, domingo passado eu o ouvi com muito prazer; nunca fui tão edificada. Vim novamente esta manhã, mas fui terrivelmente desapontada. – O bom homem respondeu com muita calma:

- Desculpe, minha senhora, quando veio a igreja domingo passado, veio com que motivação?

- vim para a ceia, senhor.

- para ter comunhão com Cristo, eu imagino? – ele perguntou.

- |Sim, senhor.

- Bem, a senhora veio para isso, e o recebeu. Agora, diga-me, para que a senhora veio aqui esta manhã?

- vim para ouvi-lo, senhor – ela disse.

- e foi o que a senhora recebeu, e nada, além disso, porque a senhora não veio para nada mais.

Ora, quando as pessoas vêm para ouvir certo pastor, ou por hábito, ou pela forma, será que sempre recebe aquilo pelo que vieram? Quando a pessoa vem a procura de falhas, nós sempre lhes servimos muitas das nossas imperfeições para entretê-las, de modo que não saiam desapontadas. Outros que vêm somente por hábito, dizem: “Bem, esta é a minha tarefa; fiz minha obrigação”. É óbvio que sim. Mas se você entrou pela porta – isto é, olhando para Cristo, procurando por Cristo, desejando não ver o pregador, mas o Senhor, não receber as palavras do homem, mas de Deus para sua alma – eu creio que você achou pastagem.

Eu penso que o texto pode significar que quem descansa em Cristo terá todas as suas necessidades supridas. Se este texto não diz isto, outro diz: “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso”.

Alguns de vocês são muito pobres, mas se confiaram em Cristo, podem reivindicar esta promessa: “o Senhor disse que eu acharia pastagem”. Venha a Cristo e lhe diga que foi Ele mesmo que afirmou isso: “Nenhum bem sonega aos que andam retamente”.

Eu anseio em Deus que alguns que ainda não entraram no aprisco sejam agora atraídos à Jesus. Oh entrem pela porta para estes quatro privilégios especiais. Você talvez nunca tenha uma oportunidade assim. Talvez você nunca mais seja tocado assim pelo Espírito de Deus. Sim! Sem demora lancem suas almas impotentes nos braços cheios de graça do Salvador, que pode e quer salvar, para que sejam salvos agora.


Autor: Pr Charles Haddon Spurgeon

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